São onze e meia da noite. Cama desfeita, bagunça, armário aberto, cabides vazios. Sacos, sacolas. Blusas, casacos, calças, calcinhas se misturam ao lençol amassado que ainda resguarda o resto do sono não dormido. O sábado prometeu. A ansiedade agora toma conta do ambiente que se tensiona a cada tic dos segundos do relógio.
No outro cômodo, a batida do descanso do ferro de passar ritmiza a sequência de roupas que se estendem na tábua. A tensão é maior ali. As perguntas, dúvidas, esperanças e preocupações se entrelaçam com a felicidade que sustenta as lágrimas de não derramarem antes da hora.
Na sala, a calma impera aos olhos de quem assiste a cena, entretanto, o redemoinho que movimenta os pensamentos é movido também pela agitação marcada par o dia seguinte. O sono chega. Ele se levanta e vai deitar. A manhã será agitada; trabalho, cliente; e a tarde guarda a garantia do trânsito até o aeroporto.
O ferro que ainda trabalha incansavelmente não cede intervalo ao sono, porém, o cansaço ultrapasssa o obstáculo deixando um rastro de sonecas interrompidas.
O primeiro cômodo se esvazia aos poucos. Potes se encaixam em nécessaires, documentos e passaporte se ajeitam em envelopes, brincos entram nos casulos. Chinelos na mala; pés descalços. Há muito o que ainda revirar até achar as compras do dia anterior que se perderam entre objetos, gata, lençóis, edredom, saco, sacolas, mala....
A agenda reencapada na capa e verso por um mosaico colorido de sobreposições de fotos, presente de despedida, já tem lugar certo: bagagem de mão; dentro dela estão os depoimentos das amigas que não a esquecerão, dos pais que a amam acima de tudo e da irmã que, neste exato momento, escreve este pedaço de história.
A gata que, em outra hora, reinava nas atenções noturnos por seus pinotes incansáveis seguidos de suas tentativas sutis de esconderijos entre almofadas ou sob o edredom, agora se confunde por entre os diversos objetos que ocupam a casa. Mesmo assim, na falha tentativa de retomar a atenção, a magrela felina se diverte entrando e saindo das dezenas de sacos plásticos que enfeitam feiamente o ambiente, desviando a atenção da menina que interrompe rapidamente as dobradas de roupa para uma carícia no corpo delgado e macio da pequena arteira que considera como filha. Os armários se fecham.
A essa hora, o ferro já não sonoriza a casa; o homem já descansa. A menina se apressa na expectativa de parar o relógio que só teima em correr. A mãe transfere as preocupações: da ansiedade da partida para a pressa de alcançar o descanso para o agito da segunda-feira que vem chegando.
terça-feira, 11 de maio de 2010
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4 comentários:
Bru...vc conseguiu captar o sentimento de toda a família. Parabéns e Sucesso!!
bjo
Pude relatar com os meus olhos,um breve momento dessas passagens... vc conseguiu de forma grandiosa, divertida e clara, relatar os sentimentos e pensamentos de todos!Em minha leitura pude viajar na imaginação das cenas de formas diferentes do acontecidoq presenciei) e lembrar varios flashs das imagens comentadas...
Simplesmente Barbaro!!!
Como dizem os argentinos..."Muy Lindo Che!" Parabéns!!!!!!
Bjsss minha linda!!!!
Parabéns BRUNA você escreve tudo que realmente está acontecendo com nossas vidas e nossos sentimentos. bjos.
Ahh, fala sério, era uma bagunça organizada! Eu sempre soube onde estava tudo desde o começo :D hahaha Lindo texto Muna!
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