terça-feira, 11 de maio de 2010

Viagem programada

São onze e meia da noite. Cama desfeita, bagunça, armário aberto, cabides vazios. Sacos, sacolas. Blusas, casacos, calças, calcinhas se misturam ao lençol amassado que ainda resguarda o resto do sono não dormido. O sábado prometeu. A ansiedade agora toma conta do ambiente que se tensiona a cada tic dos segundos do relógio.

No outro cômodo, a batida do descanso do ferro de passar ritmiza a sequência de roupas que se estendem na tábua. A tensão é maior ali. As perguntas, dúvidas, esperanças e preocupações se entrelaçam com a felicidade que sustenta as lágrimas de não derramarem antes da hora.

Na sala, a calma impera aos olhos de quem assiste a cena, entretanto, o redemoinho que movimenta os pensamentos é movido também pela agitação marcada par o dia seguinte. O sono chega. Ele se levanta e vai deitar. A manhã será agitada; trabalho, cliente; e a tarde guarda a garantia do trânsito até o aeroporto.

O ferro que ainda trabalha incansavelmente não cede intervalo ao sono, porém, o cansaço ultrapasssa o obstáculo deixando um rastro de sonecas interrompidas.

O primeiro cômodo se esvazia aos poucos. Potes se encaixam em nécessaires, documentos e passaporte se ajeitam em envelopes, brincos entram nos casulos. Chinelos na mala; pés descalços. Há muito o que ainda revirar até achar as compras do dia anterior que se perderam entre objetos, gata, lençóis, edredom, saco, sacolas, mala....

A agenda reencapada na capa e verso por um mosaico colorido de sobreposições de fotos, presente de despedida, já tem lugar certo: bagagem de mão; dentro dela estão os depoimentos das amigas que não a esquecerão, dos pais que a amam acima de tudo e da irmã que, neste exato momento, escreve este pedaço de história.

A gata que, em outra hora, reinava nas atenções noturnos por seus pinotes incansáveis seguidos de suas tentativas sutis de esconderijos entre almofadas ou sob o edredom, agora se confunde por entre os diversos objetos que ocupam a casa. Mesmo assim, na falha tentativa de retomar a atenção, a magrela felina se diverte entrando e saindo das dezenas de sacos plásticos que enfeitam feiamente o ambiente, desviando a atenção da menina que interrompe rapidamente as dobradas de roupa para uma carícia no corpo delgado e macio da pequena arteira que considera como filha. Os armários se fecham.

A essa hora, o ferro já não sonoriza a casa; o homem já descansa. A menina se apressa na expectativa de parar o relógio que só teima em correr. A mãe transfere as preocupações: da ansiedade da partida para a pressa de alcançar o descanso para o agito da segunda-feira que vem chegando.

4 comentários:

Rosa Azevedo disse...

Bru...vc conseguiu captar o sentimento de toda a família. Parabéns e Sucesso!!

bjo

Danilo Ulian disse...

Pude relatar com os meus olhos,um breve momento dessas passagens... vc conseguiu de forma grandiosa, divertida e clara, relatar os sentimentos e pensamentos de todos!Em minha leitura pude viajar na imaginação das cenas de formas diferentes do acontecidoq presenciei) e lembrar varios flashs das imagens comentadas...
Simplesmente Barbaro!!!

Como dizem os argentinos..."Muy Lindo Che!" Parabéns!!!!!!

Bjsss minha linda!!!!

Unknown disse...

Parabéns BRUNA você escreve tudo que realmente está acontecendo com nossas vidas e nossos sentimentos. bjos.

Nath Azevedo disse...

Ahh, fala sério, era uma bagunça organizada! Eu sempre soube onde estava tudo desde o começo :D hahaha Lindo texto Muna!

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