sexta-feira, 7 de maio de 2010

Esperança de vésperas

Sentada na poltrona de tom bege, desgastada pelo tempo, a velha se deixa folgar em seu descanso de meio de manhâ. A sala é uma mistura de épocas que se encontram e criam histórias que as paredes sozinhas poderiam, aos sussurros, contar para o mais inusitado visitante.

A rua tranqüila só se deixa enganar pelas dias de pastel. O bar da esquina sugere e o cheiro de recém frito ataca os vizinhos, arrastando-os para a rua.

São dez horas, a porta recém pintada de um marrom forte, que quase cheira o carvalho de sua cor, está aberta; dois quadros harmonizam a parede da direita de um nuance mais claro de bege que o sofá e a poltrona; o presente de uma das muitas netas enfeita outro pedaço da parede; abaixo, a mesinha redonda de canto se acomoda no pequeno espaço que não permite que os outros vejam sua beleza de anos atrás; o telefone está sobre ela, junto também da pequena caderneta que guarda os telefones úteis, os inúteis e dos sete filhos que teve. A televisão que ocupa um dos cantos do cômodo conversa com as paredes contando os mínimos detalhes do preparo do almoço de dia das mães. A velha sonha acordada enquanto a brisa leve da manhã passa por entre a cortina fazendo-a dançar ao se encostar na janela meio aberta. Dois dias para o dia das mães.

A cozinha, mais uniforme de enfeites que a sala, se impõe mais que qualquer canto pelas elaborações aromáticas que se criam em suas panelas surradas pelo intenso uso. A coifa, presente do primeiro filho, dá o quase imperceptível ar de modernidade não desejada. As geladeiras e fogão, também presente, entretanto do filho três, realçam o vigor da velha de agarrar pelas entranhas do estômago a esperança de reunir a família toda.

2 comentários:

Unknown disse...

Realmente só estando com a pessoa e vendo a casa com as móveis é que pode imaginar .bjos

Nath Azevedo disse...

É só com comida mesmo pra reunir todo mundo! E não posso negar que o feijão dela é muuuuuuito bom :D

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