segunda-feira, 11 de abril de 2011

Faces de Libertinagem

Espremi meus olhos e senti uma ardência escorrer pela lateral do meu rosto. Senti uma dor subindo pelas costas e apertei as mãos. O sol esquentava o lado direito da minha pele. Por trás das pálpebras fechadas percebia também uma sombra. Abri os olhos.

Sentei e tirei a dor das costas: uma garrafa de vodca vazia. Como pude deitar em cima dela? Não entendia o que estava acontecendo... O ainda gelado da grama provocava arrepios nas minhas pernas. Olhei para meus pés e eles me contaram que eu não estava consciente quando tentei caminhar por entre as árvores. Estava sozinha, era o que parecia.

Procurei outras dores no meu corpo, me virei, dobrei os joelhos. Achei arranhões dos esbarrões que devo ter tido com arbustos. Girei o pescoço e ergui, me deparei com a sandália pendurada na árvore, apenas uma e minha. Levantei, alcancei e peguei.
Comecei a dar risada sozinha, a sensação do caminhar com apenas um pé calçado continuava me provocando arrepios que subiam até meu umbigo e me faziam cócegas. Meus lábios se moviam involuntariamente.

Andei e dei de encontro com minha outra sandália na beira de um pequeno barranco. Tentei deduzir o passado daquela situação e me forcei a acreditar que tinha caído dali, rolado. Calcei o outro pé e me esforcei a subir. Me sentia estranha, feliz, besta. Dava risada a cada novo passo mole que tentava firmar na terra úmida e gelada do barranco e, quando errava o pé, escorregava e começava outra vez.

A sensação da descida era tão boa, uma libertinagem gostosa, que me fez acreditar na desnecessidade de subir até o fim. Diverti-me por mais alguns instantes e cansei. Minha mão formigava, os olhos meio abertos davam ao meu rosto um ar de êxtase. Minha boca sorria sozinha e o sol conversava com meus pensamentos por entre as folhas das árvores. Não sei por que queria sair de lá, tudo estava tão bom.

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